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Alta da taxa Selic faz primeira prestação de imóvel subir 39,06% em um ano
quinta-feira, 24 Março, 2022 - 14:30
Com o aumento da taxa Selic anunciado pelo Conselho de Política Monetária (Copom) na última reunião, surgiu uma preocupação em relação àqueles que se comprometeram com a compra de imóvel: talvez o financiamento não caiba no bolso.
Imagem: reprodução
A pedido do Correio do Estado, o economista Fábio Nogueira fez um estudo de orçamentos comparando a parcela inicial paga em financiamento contratado em abril de 2021 com a de um parcelamento que utilize as novas taxas afetadas pela Selic.
Com apenas um ano de diferença, é possível notar que a parcela inicial chega a ficar 39,06% mais cara.
Atualmente, uma família interessada em comprar um imóvel de R$ 180 mil terá de se comprometer com uma parcela inicial de R$ 1.377,14 na simulação mais em conta, de acordo com o aplicativo Melhor Taxa.
Esse é o valor para o financiamento de R$ 127 mil, com entrada de R$ 50 mil. Em 2021, a prestação inicial com os encargos no mesmo cenário sairia por R$ 978,79, com a taxa Selic a 2,75%.
O doutor em Economia Michel Constantino diz que as taxas podem ser pré-fixadas ou pós-fixadas, e esse aumento pode ser explicado por um desses mecanismos.
“Se foi pós-fixada, a prestação vai aumentar conforme o aumento da taxa de juros aplicada. E com o aumento da taxa Selic, todas [as taxas] aumentam. A previsão é de que a Selic aumente ainda mais até o fim de 2022”, analisa.
Fábio Nogueira destaca que, como a remuneração não acompanhou o ritmo de crescimento, a aquisição de imóveis usados ou novos pode não se concretizar, “pois exige que as prestações estejam dentro de uma margem de 30% da renda da família”.
Em janeiro de 2021, a taxa básica de juros chegou a marcar 2%, no menor patamar da série histórica iniciada em novembro de 1997.
Depois de o último ano apresentar inflação de 10,06% na média nacional, no começo deste mês, o Copom elevou a Selic a 11,75%, maior marca desde 20 de julho de 2016.
Constantino explica que a intenção de elevar a Selic é desestimular o consumo. “Para quem vem se preparando para comprar um imóvel usando financiamento, o aumento atrapalha ou dificulta a compra, pois o custo de comprar fica mais alto, bem como as parcelas”, afirma.
A aplicação atual utiliza como base o menor juro ofertado de 9,10% ao ano.
Conforme explica o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-MS), Marcos Augusto Netto, “a Selic estar em 2% ou 12% não significa que esses serão os juros cobrados.
Hoje, temos mecanismos jurídicos que estimulam a concorrência entre os bancos, então o proprietário pode também utilizar isso a seu favor e negociar o financiamento em outros bancos dispostos a oferecer menores valores”.
ALTERNATIVA
Esse tipo de movimento pode ser mais interessante para aqueles que adquiriram um imóvel novo, ainda na planta. Eli Rodrigues, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-MS), corrobora com a alternativa dada pela Secovi.
“Sempre tem algum agente financeiro em busca de clientes que, além dos financiamentos habitacionais, tenham outros tipos de negócios com os bancos”, afirmou Rodrigues.
Ele ainda diz que existe desconforto do setor como em qualquer outro segmento, mas que isso já não é novidade. Esse movimento é acompanhado pelo empreendedor, que auxilia na portabilidade de crédito mais barato para o comprador.
“Já passamos por situações parecidas com esta, e o mercado conseguiu sobreviver, pois os empreendedores sempre participam da negociação trazendo outras opções de pagamento”, comenta.
O Secovi-SP estima que o mercado imobiliário deve apresentar quedas de 10% a 15% este ano. Para o Presidente Secovi-MS, Marcos Augusto Netto, isso é motivado pelo desempenho da indústria.
“MS tem o privilégio de ser influenciado pelo agronegócio, e o setor está bombando agora. Então, a queda pode existir, mas não tão expressiva como lá”, avalia Netto.
Essa tranquilidade com relação à queda também é relatada nas desistências de contratos firmados. O presidente diz que não faz sentido para uma pessoa desistir de uma contratação antes de o financiamento começar, por causa da taxa de juros. “Ela perde o dinheiro do sinal desta forma. Há outras formas de renegociar isso”.
Marcos Augusto explica que nesta modalidade de compra é preciso ter planejamento. Como a construção de um novo empreendimento pode demorar até três anos, o melhor negócio para o comprador é fazer uma poupança nesse período que pagaria a entrada.
“Esse pré-financiamento é o grande lance. É uma forma de o comprador conseguir arcar com a entrada, que muitas vezes ele não tem o valor cheio”, pondera o presidente.
Ambos os dirigentes afirmam que o financiamento imobiliário é a linha mais em conta que existe e que o sistema financeiro faz de tudo para manter os contratos. Marcos Augusto considera que esse cliente é o “filé” dos bancos.
“O sistema bancário quer essa fidelidade de ter um cliente por 25 ou 30 anos, que passa a consumir outros produtos, a contratar crédito de outras linhas. É o melhor cliente, não só no Brasil, mas no mundo”, declara Netto.
Fonte: Correio do Estado