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Conheça o “bebedouro ecológico” que está ganhando fama no Brasil

on qui, 12/03/2020 - 00:15
quinta-feira, 12 Março, 2020 - 00:15

Você, produtor, peão ou capataz de uma fazenda de pecuária, teria coragem de beber a mesma água que serve para os seus animais? Esta é uma dinâmica que o médico veterinário Fernando Loureiro faz com frequência em suas visitas às propriedades e em dias de campo. Ele separa um copo transparente, enche com a água da aguada ou da pilheta e ameaça beber.

Foto: reprodução

“É verdade isso! Inclusive eu já carrego esses copos transparentes para mostrar para o pecuarista a importância de o gado beber uma água limpa, que a gente não teria nenhum receio, nenhum nojinho de beber. A água que o boi precisa, que a vaca, o bezerro precisa beber é a mesma água que a gente beberia, sem problema. Então o pessoal principalmente lá no campo, o capataz, o peão, no dia a dia, eles veem o copo transparente com a água turva, esverdeada, barrenta, eles falam: ‘não, não bebe!’. Eu falo ‘ué, se não está boa para eu beber, não está boa para o gado beber!’. E eu acho que esse é um jeito muito simples de todos entenderem”, detalhou Loureiro em entrevista ao Giro do Boi desta quarta, dia 11.

O veterinário alertou para as doenças que o líquido contaminado de uma aguada, ou açude, por exemplo, podem causar ao rebanho. “Isso é fonte de todas as ‘oses’: eimeriose, salmonelose, coccidiose. Tudo isso se traduz em perda de desempenho, diarreia nos animais, principalmente nos bezerros em fase de cria, o que é um problema grave no Brasil”, advertiu Loureiro, acrescentando ainda a leptospirose a esta lista de riscos à sanidade do rebanho. É possível ainda que a bactéria que causa botulismo esteja presente em ambientes como os descritos acima, que podem ser contaminados com carcaças de pequenos animais, como peixes e aves que viraram refeições de outros predadores, como jacarés. A proliferação de algas pode ainda levar a certo nível de intoxicação e ocorre quando os animais levam restos de capim e de ração ao bebedouro.

Em participação no Giro do Boi, o veterinário citou estudos que comprovam a influência do consumo de água limpa no ganho de peso de bovinos. O primeiro destes experimentos encontrados por Fernando foi feito por uma universidade em Alberta, no Canadá, e comparou o desempenho de três categorias animais (vacas paridas, bezerros desmamados e garrotes de dois anos), comprovando que o ganho de peso diário nos bovinos que bebiam água em um bebedouro era em média 225 gramas superior ao dos indivíduos que consumiam a mesma água, mas no açude. Embora fosse a mesma água consumida, o mero bombeamento do líquido ao bebedouro, conforme explicou Fernando, já evitava que diversos tipos de dejetos no fundo do açude fossem trazidos à tona com o pisoteio do gado.

Loureiro disse também que encontrou referências em um estudo de 2006 publicado pela SBZ, a Sociedade Brasileira de Zootecnia, também concluindo que o desempenho em ganho de peso dos animais que consumiam água no bebedouro era 110 gramas superior em comparação com os que bebiam no açude em um sistema de produção com pastagem nativa e sal mineral no Rio Grande do Sul.

“E agora, mais recente, tem um trabalho que foi feito em um confinamento muito grande de Água Boa, Mato Grosso, lá no Grupo Mantiqueira, coordenado pelo zootecnista Ânderson Panzera”, contou Loureiro. Segundo o veterinário, o experimento consistiu em comparar o desempenho de lotes que bebiam água em bebedouros lavados a cada três dias (como faz a maioria dos confinamentos do Brasil) com o de lotes que beberam água em bebedouros lavados diariamente. “O gado que tinha o bebedouro lavado todo dia aumentou o consumo de água em 28 litros, […] comeu muito mais e o consumo de matéria seca aumentou de 11,7 quilos para 13 quilos. Esse 1,3 quilo a mais de matéria seca, entre silagem e ração concentrada misturada, representou um ganho de 280 gramas a mais por boi por dia. Isso num confinamento do porte do Mantiqueira representa um acréscimo de faturamento acima de R$ 3 mi”, explicou o veterinário.

Loureiro lembrou que intensificou suas pesquisas sobre os impactos do consumo de água contaminada por bovinos a partir de 2012, quando passou a representar a empresa Rubber Tank no Brasil. A companhia encontrou uma solução para problemas como os citados anteriormente e aplicou à pecuária norte-americana, ao passo que o veterinário enxergou a oportunidade de importar o equipamento que traria tais benefícios também à bovinocultura tropical.

A resposta está no uso de tanques de borracha feito com pneus gigantes usados em maquinários de mineração, que são cortados e transformados em bebedouros duráveis, de fácil instalação e limpeza e também considerados sustentáveis. “É ecológico por não agredir o meio ambiente. Pelo contrário, ele traz benefício porque a gente está retirando do meio ambiente um lixo ambiental, que são os pneus pós-uso”, comentou.

A resistência é um dos destaques dos produtos, que podem durar por diversas gerações em uma fazenda de pecuária – até 600 anos, calculou o veterinário, conforme estimativas das próprias indústrias do setor. “Essa é uma brincadeira que eu fiz no primeiro evento aqui em São Paulo, capital, a extinta Feicorte. Nós lançamos a empresa e eu falava para o pessoal: ‘eu vou dar garantia de 300 anos, mas se você precisar que eu estenda a garantia, você me procura ate lá que eu assino”, disse sorrindo.

De fato, desde que foi inventado, há pouco mais de 100 anos, nenhum pneu foi naturalmente decomposto no meio ambiente. Por isso, quando transformado em bebedouro, acaba cumprindo papéis importantes para as indústrias que fazem seu uso em grande volume, com as do setor de mineração, como também para a pecuária de corte. “A grande vantagem disso, na verdade, está sendo para a indústria de mineração porque a gente recicla um lixo ambiental deles, que é o pneu depois do uso. Depois do descarte, a gente traz uma solução, e eu chamo de de upcycling pecuário. É quando você pega um produto que já existe e transforma para um novo uso sem voltar ele na origem, sem voltar no látex, no óleos derivados de petróleo, no aço. Eu transformo para um uso infinito sem gerar resíduo para a natureza”, completou.

Para as fazendas, além da durabilidade, a mobilidade e a facilidade de manejar o equipamento se apresentam como diferenciais. “Eu tenho um vídeo de um trator de esteira passando sobre o pneu (assista no player abaixo) e não acontece nada. É perigoso estragar a sapata da esteira, mas não estragar o bebedouro. Então a vantagem é grande. Outro ponto: touro, animais brigando, eles batem no bebedouro, nenhum animal sai manco, não sai machucado e não estraga o bebedouro porque ele (pneu) devolve a pressão. A instalação é muito simples, ela é feita somente com cimento, areia e pedra, um concreto que é feito lá no local de uso para tampar o fundo do pneu”, instruiu.

Esta característica do bebedouro traz para o pecuarista competitividade dentro do setor, conforme reforçou Loureiro. “Isso é uma vantagem muito grande porque as fazendas tiveram uma redução de margem muito grande. Hoje o fazendeiro precisa ser muito produtivo e uma das formas é aumentar o seu nível de produtividade e também reduzindo custo. Você vai reduzir custo com um produto que vai dar menos manutenção, menos necessidade de ficar repondo”, apontou.

O produto pode ainda melhorar o conforto térmico dos animais, pois sua composição de borracha serve como isolante térmico. No frio, como acontece em parte do ano nos Estados Unidos, sede da Rubber Tank, ele ajuda a proteger a água do congelamento, retardando seu resfriamento. Nos trópicos, ocorre o inverso. “Aqui no Brasil se traduz em vantagem no calor porque a borracha espessa é um isolante térmico e demora mais tempo para a água ficar muito quente”, citou.

Fernando disse que o custo do bebedouro é de 90 centavos por litro de capacidade. Ou seja, um tanque de 1.000 litros custa cerca de R$ 900. São nove tamanhos diferentes, variando de 600 litros, que seria recomendado para levar água a um curral, ao mangueiro para trabalhos mais rápidos ou para rebanhos menores, como a tropa ou vacas leiteiras, seguindo até os maiores de 5.400 litros indicados para até 250 animais.

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Fonte: Canal Rural