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Dayana tentou suicídio 2 vezes e aprendeu que falar é o início da recuperação
quarta-feira, 4 Setembro, 2019 - 13:45
Com um quadro depressivo controlado há pouco mais de um ano, Dayana Rafaela Silva de Oliveira, de 30 anos, agora consegue falar sobre a importância de ter sido ouvida e apoiada pela família, nos últimos dez anos. Ao Lado B, a secretária relatou que a dor causada pela doença a fez tentar contra a própria vida duas vezes. Atualmente, a cada oportunidade, Dayana defende a necessidade de estar ao lado de quem está passando pelo mesmo.
Por ter passado pela mesma situação, Dayana pontua que a necessidade de procurar um psiquiatra, ainda, é encarada com preconceito (Foto: Danielle Valentim)
Estamos no Setembro Amarelo, campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015. A iniciativa é do Centro de Valorização da Vida, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Brasileira de Psiquiatria. É também neste período que monumentos em diferentes cidades adotam a cor amarela em suas fachadas para dar visibilidade à causa.
Dayana procurou o Lado B, para falar exatamente sobre a relevância do tema e pleitear que, independentemente, da campanha nacional, o assunto seja falado o ano todo e toda hora.
Com uma infância cheia de sonhos como qualquer outra, Dayana entrou na adolescência realizando um deles: ser modelo. Dos 11 aos 16 anos, a menina que tinha altura e talento para as passarelas chegou a participar de seleção em São Paulo, mas pela pouca idade a mãe não autorizou a mudança de cidade.
Logo depois, a jovem entrou na fase dos questionamentos com a imagem e auto-estima. “Ainda aos 16 comecei a me sentir feia. Eu não era aquela adolescente que chamava a atenção. Meu corpo ainda não havia se desenvolvido e era aquele negócio, para modelo era bonito, mas para chamar a atenção dos meninos, não. Eu era a engraçada da turma, a magrela e foi aí que falei para minha que não queria mais ser modelo”, lembra.
Os sintomas da depressão e a sombra do suicídio já haviam aparecido antes do casamento. Dayana já não dormia direito, se alimentava mal e tinha crises de ansiedade. Mas o diagnóstico aconteceu definitivamente no pós-parto.
“Eu namorava meu marido e fomos morar juntos, quando eu tinha 19 anos. Eu engravidei no primeiro mês, uma gestação de risco. Logo no começo tive dois começos de aborto. Minha filha nasceu e quando ela completou 3 meses eu tive depressão pós-parto”, conta.
A comida fedia – Dayana ficou uma semana, literalmente, acamada. Sem comer, a jovem secou a ponto de se assemelhar a um esqueleto.
“Eu não conseguia comer nada, a comida fedia no meu nariz, eu sequei a ponto de parecer um esqueleto e para não morrer só conseguia ingerir líquido. A Rafa é minha vida, ela é a melhor coisa que aconteceu comigo, mas lembro que quando ela acordava eu fingia estar dormindo para não ter que cuidar dela. Eu só queria que tirassem ela de perto de mim”, conta emocionada.
O pai de Dayana sempre teve depressão e a única coisa que ela pedia na época era para não ser medicada, pois não queria ser dependente de medicamentos como o familiar. “Minha mãe e meu marido foram espetaculares nessa época”, lembra.
A tempestade passou e Dayana se reergueu, como ela costuma falar. Junto ao marido saíram da casa da sogra e alugaram uma casa. A jovem tinha melhorado, mas ainda não tinha iniciado um tratamento psicológico necessário.
Nos dez anos de casamento, Dayana publicou a montagem no Instagram. (Foto: Reprodução)
O casamento acaba de completar dez anos, mas no início, a imaturidade devido à pouca idade, resultou em muitas brigas, lembra Dayana. Em 2013, os sintomas retornaram e a jovem escondeu a dor. Sofrendo em silêncio tentou se matar pela primeira vez, quando a filha tinha quatro anos. Na segunda, chegou a receber atendimento em unidade de saúde.
“Eu escondia dele (marido) que os sintomas tinham voltado. Um dia, depois de uma briga, ele saiu para ir ao mercado com um amigo e eu entrei para o quarto. Ele conta que sentiu que deveria voltar. Ele começou a chamar no portão e quem saiu foi minha filha. Ele então pulou o muro e junto ao amigo me salvaram”, conta.
A situação de Dayana foi um baque na família e um psicólogo entrou na história. “O psicólogo me perguntou se eu queria sair daquela situação e eu respondi que sim, que queria ajuda. Só que a depressão quando chega na fase suicida, ela não quer mais ficar. É uma dor que você acha que só vai acabar tirando a própria vida. Você não pensa em quem vai ficar, você não se sente bem em estar aqui”, pontua.
O apoio - Hoje Dayana diz que o que a salvou foi o apoio que recebeu das pessoas que estavam ao seu redor. Dayana se orgulha da dedicação do marido e de toda a família. Ela garante que a pior parte a ser suportada por um depressivo é ouvir que a doença é frescura e é, nesta hora, o momento de se afastar de pessoas tóxicas.
“Eu penso que eu continuei pelas pessoas que estão ao meu redor. Quando você está na depressão, é difícil, mas é preciso se afastar das pessoas tóxicas, que te colocam para baixo. Ouvir que a depressão é uma frescura, é a pior parte. E foi isso que eu fiz, sou uma pessoa de poucos amigos. Não sou contra a amizade, ela é essencial, mas quando se trata de uma relação saudável”, pontua.
À reportagem, Dayana explica que a “libertação” da depressão ocorreu há pouco mais de um ano. “Um dia sentada eu olhei para a Rafaela e tive o desejo de vê-la crescer, de vê-la completando 15 anos, se desenvolvendo, se formando, tendo filhos... Eu digo, não é fácil para nós, mas as pessoas que nos cercam são fundamentais. Eu perdi pessoas próximas e eu repito a todos que estejam passando pela mesma situação: não desistam”, frisa.
O preconceito – Por ter passado pela mesma situação, Dayana pontua que a necessidade de procurar um psiquiatra, ainda, é encarada com preconceito. De forma errada, as pessoas ainda ligam a área médica ao hospício.
Trabalhando com médico neurologista, Dayana cansou de ver paciente com depressão aguda buscando ajuda no consultório de tratamento para distúrbios do sistema nervoso. “Eu mesma tinha essa rejeição. Porque eu achava que ao entrar no consultório do psiquiatra ele me receitaria um monte de remédio e eu ficaria dopada. É essa a visão”, garante.
“É a doença do século. E eu sou sincera em dizer que vivemos um dia de cada vez. A minha fé também me ajudou e as pessoas que estão passando por isso também precisam de uma válvula de escape”, finaliza.
Ajuda- Nem sempre é fácil tratar o assunto, falando da gravidade do problema, sem aprofundar na prática do suicídio. Mas precisamos falar sobre, dialogar é prevenir.
Em Campo Grande, o Grupo Amor Vida (GAV) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através dos telefones (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99644-4141 (Vivo), todos sem identificador de chamadas. Ligue sempre que precisar!
Horário de funcionamento das 07:00 às 23:00, inclusive sábados, domingos e feriados. Informações também pelo site (clique aqui).
Família reunida (Foto: Reprodução/Instagram)
Fonte: Campo Grande News