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Fazenda 3R ganha destaque ao desenvolver sistema de produção de bezerros super precoces

on seg, 23/02/2015 - 09:06
segunda-feira, 23 Fevereiro, 2015 - 09:15

Com uma mistura de profissionalismo, inovação e persistência, o pecuarista Rubens Catenacci, o Rubinho, proprietário da Fazenda 3R, no município de Figueirão, a 260 quilômetros de Campo Grande, na região nordeste de Mato Grosso do Sul, esta ajudando a revolucionar a pecuária no pais, ao desenvolver um sistema de produção de bezerros super precoces, praticamente em escala industrial, que entrega ao mercado, com oito meses um animal com média de 300 quilos. Esse peso, em uma criação a pasto seria atingido com o mínimo de 18 meses.
 

O bezerro super precoce da 3R pode tanto seguir direto para o abate e atender o crescente, mas ainda restrito mercado por carnes “premium” no país ou ainda ir para a terminação em criação a pasto ou em sistemas de confinamento ou semiconfinamento, para após um período de quatro a seis meses de engorda atingir o peso de boi gordo, em torno dos 450 quilos, e seguir para o abate.

Em qualquer um dos casos, uma etapa da pecuária convencional, a recria, quando o animal após ser desmamado, ganhava peso nas pastagens e com suplementação, é eliminada do processo, encurtando o ciclo de produção para o boi gordo, por exemplo, em pelo menos dez meses.  “Desse modo se aumenta a produtividade do rebanho, a rentabilidade do produtor, a disponibilidade do produto e ainda a qualidade da carne produzida”, destaca o criador.

 

Pecuarista Rubens Catenacci, o Rubinho, esta ajudando a revolucionar a pecuária de corte no país (Foto: Anderson Viegas/Do Agrodebate)Pecuarista Rubens Catenacci, o Rubinho, de
Figueirão (Foto: Anderson Viegas/Do Agrodebate)

Catenacci explica que o sistema de produção de bezerros super precoces é fruto de um trabalho de 25 anos na 3R, que começou a partir da vontade que ele tinha de vencer os prêmios de uma exposição com os animais de sua fazenda.  “Deu tão certo, os resultados foram tão bons que percebi que poderíamos aplicar as técnicas para o restante do rebanho e aí começamos a desenvolver o sistema”, comenta.

O sistema a que o criador faz referência é baseado em três pilares: genética, manejo e nutrição.  Na genética, o primeiro passo para obter uma produção diferenciada na cria, conforme o produtor, foi a escolha da matriz, a vaca Badalada. Eleita a melhor matriz de Mato Grosso do Sul e a terceira melhor do ranking nacional entre 1997-1998, o animal foi a base há 20 anos do processo de seleção da fazenda, imprimindo ao rebanho, mesmo aos animais produzidos para o abate, precocidade, fertilidade, longevidade, docilidade e funcionalidade.

Atualmente, conforme o medido veterinário Gilmar Siqueira, que atende a propriedade desde o início do trabalho de seleção genética, cerca de 90% dos animais produzidos na fazenda, têm algum tipo de parentesco com a vaca Badalada.

Além da matriz, o trabalho de seleção envolveu ainda a escolha de bons reprodutores, já que eles além de influenciar no melhoramento genético também são os maiores responsáveis pelo índices reprodutivos.  Na fazenda foi dada prioridade a animais puros de origem (PO), provados em programas de melhoramento genético, com resultados positivos para atributos economicamente importantes como, por exemplo, ganho de peso e biótipo funcional.  Atualmente, a propriedade tem dois grandes reprodutores, Atecion, de 9 anos e Influxo, de 5 anos .

Com essa excelente base genética, o produtor faz uso da mais moderna tecnologia existente no mercado para aproveitá-la no desenvolvimento do rebanho por meio de técnicas como a Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF), Fertilização in Vitro (FIV), Transferência Nuclear e ultrassom de carcaça.

Com grande qualidade genética e uso das melhores técnicas para aproveitá-la, o produtor criou então um sistema inovador de manejo para a criação dos bezerros. Dividiu parte dos 5 mil hectares de pastagens da fazenda, que tem um total de 7,8 mil hectares, em 24 grandes áreas circulares de 70 a 150 hectares. No centro destas “pizzas”, criou uma praça de alimentação para as matrizes e outra para os bezerros, onde os animais jovens, a partir dos 30 dias de vida e até os oito meses de idade, uma vez por dia, pelo período de três horas, são apartados das vacas e recebem uma ração especialmente desenvolvida para a propriedade e para este tipo de animal.

O restante da área é dividido em dez piquetes de tamanhos iguais. Vacas e bezerros permanecem três dias em cada piquete e depois são transferidos para o próximo (rotacionamento). Batizado de Creep Confinatto 3R, o sistema, conforme Catenacci, assegura a docilidade e facilidade no trato com os animais, tanto que, segundo ele, apenas um peão faz a apartação dos bezerros das vacas para a praça de alimentação e a transferência de piquetes em cada uma das “pizzas”.

Apartamentação no bezerros das vacas para a praça de alimentação é feito por apenas um peão no Creep Confinatto 3R (Foto: Anderson Viegas/Do Agrodebate)Apartação do bezerros é feita por apenas um
peão (Foto: Anderson Viegas/Do Agrodebate)

A separação temporária dos bezerros das vacas, conforme o produtor, é um dos aspectos mais importantes do manejo. “Esse sistema diminui a perda de peso das vacas no período de desmama, facilita a reconcepção das matrizes para o retorno ao cio, com consequente aumento da taxa de prenhez. Além disso, contribui também para a mansidão dos animais e bom aproveitamento das pastagens, já que os animais ficam apenas três dias em cada piquete, consumindo somente as pontas do capim”, explica .

Nas praças de alimentação do sistema esta outra parte do tripé que assegura o diferencial a propriedade na produção dos bezerros, a ração oferecida aos animais. O produto, conforme Rodrigo Meireles, gerente técnico de nutrição da Agroceres Multimix, empresa que o desenvolveu, é uma ração peletizada, que facilita o manejo e evita o desperdício. Ao produto foram adicionados um flavorizante para estimular o consumo e a virginiamicina, para melhorar o desempenho e a saúde ruminal e intestinal dos bezerros.

Os animais começam comendo cerca de 100 gramas por dia e terminam o ciclo no sistema ingerindo aproximadamente 1 kg de ração por dia, com média de consumo em todo o período de 500 a 600 gramas por dia e ganho médio de peso de até 1,2 quilos por dia. Além disso, de acordo com o produtor, também estimula o desenvolvimento precoce do rúmen dos bezerros, que além de mamar e comer a ração também começam a pastar.

 

Na praça de alimentação, bezerros começam as 30 dias a comer ração, o que estimula o desenvolvimento do rúmen (Foto: Anderson Viegas/Do Agrodebate)Na praça de alimentação, bezerros começam as 30 dias a comer ração, o que estimula o desenvolvimento do rúmen (Foto: Anderson Viegas/Do Agrodebate)

O gerente da fazenda 3R, Rogério Rosalin, revela que os três pilares de produção da propriedade asseguram além de maior produtividade uma boa rentabilidade, já que o custo de produção médio de um bezerro de oito meses gira em torno dos R$ 700 (sendo R$ 139,65 de ração) e no ano passado, quando a fazenda comercializou cerca de 2,4 mil animais dessa faixa etária, os preços atingiram até R$ 1.550, o que representa um lucro de 121%. 

Com o sucesso na produção de animais jovens, que rendeu até o título concedido por uma publicação em 2013, de melhor bezerro de corte do país, e todo o investimento feito em genética, a fazenda também tem se voltado a produção e venda de touros PO e a comercialização de doses de sêmen de seus principais reprodutores.

No ano passado foram comercializados cerca de 180 touros na própria propriedade, com preços que chegaram até a R$ 6 mil cada. Segundo o criador, as próximas metas da fazenda são vender 300 animais adultos e aproximadamente 3 mil bezerros no próximo ano.

 
 

Acesso a fórmula do sucesso
Para possibilitar que um maior número de criadores tenha acesso ao sistema criado na fazenda 3R, o produtor promoveu neste sábado (21) um dia de campo, na sede da fazenda em Figueirão, onde junto com uma equipe de técnicos e colaboradores apresentou como funciona sua “fábrica de bezerros”. Foram abordados desde aspectos técnicos até a prática do dia a dia para implementar o modelo.

Durante o evento também foi lançada comercialmente a ração que a Agroceres Multimix desenvolveu especialmente para a propriedade. “Essa ração foi desenvolvida após mais de um ano de trabalho na propriedade. Quando estava pronta, o pecuarista [Catenacci] achou que deveria compartilhar com outros criadores dos benefícios que esse produto oferecia e a partir daí evoluímos para colocar no mercado esse produto”, explica o diretor de vendas e marketing da empresa, Ricardo Araujo Ribeiral.

Conforme ele, a ração que ganhou comercialmente o nome de Confinatto 3R deve ser produzida principalmente pela planta da empresa em Patos de Minas, em Minas Gerais, e deve atender criadores de todo o país. “É um produto que chega ao mercado referenciado pelo ótimo desempenho que tem na fazenda 3R, e representa uma parceria de sucesso entre o produtor, que com conhecimento prático ajudou no seu desenvolvimento, e a empresa, que com conhecimento técnico e cientifico, elaborou um produto de alta qualidade”, concluiu.


Agrodebate/Fotos: Anderson Viegas