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Frigoríficos se preparam para não comprar bovinos de quem degrada o meio ambiente
quinta-feira, 7 Julho, 2022 - 12:00
Majoritária no mercado de proteína animal do Brasil, com esse monopólio estendido para Mato Grosso do Sul, a JBS divulgou que assumiu compromissos ambientais e vai exigir dos clientes o mesmo comprometimento.
Já há políticas socioambientais implantadas, porém, a previsão é de que, a partir de 2026, essas medidas tornem-se mais rígidas. Tanto o Pantanal como outros biomas estão inseridos nesse contexto.
PMA de Campo Grande autuou arrendatário em R$ 10 mil por manter gado degradando área protegida de matas ciliares de córrego em propriedade alheia de empresa de celulose em Água Clara - Imagem: Divulgação
Propriedades que forem oficialmente identificadas como locais de desmatamento, invasão de terras indígenas e territórios quilombolas, além de unidades de conservação, ou embargadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não poderão mais vender gado para a empresa.
Outras grandes empresas do ramo, como a Marfrig, que também atua em Mato Grosso do Sul, também têm planos para a proteção das paisagens, com a meta de zerar o impacto nos biomas até 2030.
O documento da JBS que especifica essas regras é intitulado “Política de Compra Responsável da JBS”, foi assinado em 1º de junho e cita os biomas Amazônia e Cerrado para esse monitoramento.
Porém, a empresa, por meio de sua assessoria de imprensa, informou ao Correio do Estado que o Pantanal está inserido nesse modelo de negócio.
O documento da JBS é muito semelhante ao da Marfrig, que estabelece metas para Amazônia e Cerrado, mas cita o Pantanal.
Os incêndios criminosos, questão mais sensível para o Pantanal, quando identificados, também colocarão a propriedade no rol de suspensão de compra. Porém, a empresa não divulgou detalhes sobre propriedades rurais no bioma que foram suspensas. Nos sete primeiros meses de 2021, 128 proprietários foram multados por manejo incorreto do fogo pela Polícia Militar Ambiental. Nem todos, necessariamente, fazem criação de gado para abate e mantêm negócios diretos com a JBS.
Frigoríficos de multinacionais como a JBS vão excluir produtores que degradam o meio ambiente - MARCELO VICTOR
Esses critérios socioambientais foram estruturados em 2010, de acordo com a empresa, e um sistema de verificação e monitoramento foi criado para analisar as condições das fazendas que fornecem gado para a Friboi, unidade de negócios de carne bovina da JBS no Brasil.
Com imagens de satélite, dados georreferenciados e informações de órgãos do governo, há uma análise diária de 80 mil fornecedores. Conforme a JBS, 15 mil propriedades no País já foram bloqueadas por apresentarem irregularidades.
Monitoramento
Apesar de toda essa sistemática que vem sendo montada desde 2010, a JBS apontou que ainda tem pontos a superar, por ainda existirem situações que podem burlar esse monitoramento, ao menos de forma temporária.
Um recurso em desenvolvimento para tentar fechar o cerco contra fornecedores ligados ao desmatamento e a outras irregularidades é a criação da plataforma Pecuária Transparente.
Essa ferramenta vai exigir que todos os fornecedores façam um cadastro e estejam em condições de serem monitorados de forma mais contundente.
A tecnologia conhecida como blockchain foi implantada para respaldar a segurança e a privacidade dos dados, afinal, os fornecedores passarão a ser obrigados a fornecer informações relevantes do próprio negócio, o que vai resultar em um cadastro amplo de propriedades para a empresa multinacional.
Essa plataforma já foi desenvolvida, porém o cadastramento das propriedades rurais ainda é voluntário. A partir de 2026, conforme divulgado pela JBS, a multinacional só fará negócios com produtores que estiverem incorporados nessa ferramenta de monitoramento.
Em todo o Brasil
Conforme dados do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a atividade de criação de gado está presente em todos os 5.568 municípios brasileiros e é o único setor de produção que tem essa característica massiva.
De acordo com a JBS, ela promove monitoramento em 35% dessas cidades para avaliar a questão ambiental e determinar a compra de animais para abate.
“O sistema de monitoramento da JBS abrange, por meio de análise de imagens de satélite das propriedades, cerca de 850 mil km², em todos os biomas brasileiros, localizados em mais de 1.990 municípios do território nacional”, informou a diretoria de sustentabilidade da Friboi.
Esse sistema acaba gerando maior repercussão em se tratando de questões ligadas ao ambiente amazônico, onde o desmatamento e a invasão de terras indígenas são alimentados pela criação de gado e por prática de outras atividades econômicas, como exploração ilegal de minérios.
Essas atividades na Amazônia acabam ganhando maior atenção de autoridades nacionais e internacionais porque servem de argumento para países questionarem o Brasil em termos de produção sustentável. Em 2021, a França foi um dos países a questionar a produção brasileira, principalmente de soja, e ligar o tema ao desmatamento na Amazônia.
A JBS sustentou que o sistema para monitorar a compra de gado em áreas que não cometem irregularidades ambientais ou sociais é auditado anualmente.
Nesse documento, assinado em junho, a empresa ainda apontou que 99,9% das compras de gado feitas com fornecedores da Amazônia “cumprem com os critérios socioambientais”. Esses dados são apresentados publicamente pelo fato de a JBS ter capital aberto e estar regida por regras de publicização de ações tanto para acionistas como para o mercado.
Ações no Pantanal
A JBS recebeu holofotes com relação à sua atuação no Pantanal depois do lançamento de sistema com câmeras e inteligência artificial que vai monitorar áreas do bioma, principalmente na região entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso onde está localizado o Parque Nacional do Pantanal e a Serra do Amolar. O lançamento ocorreu no mês passado.
O investimento para implantar as câmeras, que têm rotação de 360 graus e alcance de visualização em um raio de até 30 quilômetros de distância, foi de R$ 8,5 milhões. O recurso utilizado para esse trabalho foi direcionado pela JBS, que firmou parceria com o Sesc Pantanal (localizado no MT), bem como com o Instituto do Homem Pantaneiro (IHP), com sede em Corumbá.
Nessa região onde estão as câmeras não há criação de gado por questões de restrição legal, porém, em 2020, foram áreas muito afetadas pelos incêndios florestais. No perímetro, há tanto propriedades particulares como uma reserva administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que agora tem escritório técnico em Corumbá.
De acordo com a empresa que implantou o sistema de monitoramento, chamada Um Grau e Meio, vai ser possível cobrir uma área de 2,5 milhões de hectares, algo em torno de 250 mil quilômetros quadrados.
No total de investimentos feitos no Pantanal pela JBS voltados especificamente para prevenção e combate ao fogo, o valor de R$ 26,5 milhões corresponde a 0,007% da receita que a empresa obteve em 2021.
“São R$ 8 milhões investidos em ações do projeto Abrace o Pantanal e R$ 18 milhões para financiar as cinco brigadas da Aliança da Terra [dentro do projeto Abrace o Pantanal]”, informou a JBS, por meio da assessoria de imprensa.
De acordo com as informações do Mapa, no Brasil, há 431 frigoríficos espalhados por diversos estados brasileiros que constam no Sistema de Inspeção Federal (SIF).
A JBS possui 230 unidades diretamente ligadas à produção de carnes; no total, são 400 unidades no Brasil. Em 2021, a empresa obteve receita de R$ 350,7 bilhões, com lucro líquido de
R$ 20,5 bilhões, ou alta de 345,5% na comparação com 2020.
Fonte: Correio do Estado com InfocoMS