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Incêndio de grandes proporções atinge Museu Nacional no Rio
segunda-feira, 3 Setembro, 2018 - 06:15
Foto: reprodução / Correio do Estado
Um incêndio de grandes proporções atinge neste domingo (2) o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio. Cerca de 50 homens de três quartéis estão no local combatendo as chamas desde as 19h (de Brasília). Parte do interior do edifício já desabou.
O fogo começou depois que o local já havia encerrado a visitação -tanto do museu quanto do zoológico que também fica na Quinta da Boa Vista. Ainda não há informações sobre vítimas.
Mais antigo do país, o Museu Nacional é subordinado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e vem passando por dificuldades geradas pelo corte no orçamento para a sua manutenção.
A instituição está instalada em um palacete imperial e completou em junho 200 anos -foi fundada por d. João 6º em 6 de junho de 1818.
Com seguidos cortes no orçamento, desde 2014 não vem recebendo a verba de R$ 520 mil anuais que bancam sua manutenção e apresenta sinais visíveis de má conservação, como pareces descascadas e fios elétricos expostos.
Seu acervo, com mais de 20 milhões de itens, tem perfil acadêmico e científico, com coleções focadas em paleontologia, antropologia e etnologia biológica, entre outras. Menos de 1%, porém, estava exposto.
"O maior acervo é este prédio, um palácio de 200 anos em que morou d. João 6º, d. Pedro 1º, onde foi assinada a Independência. A princesa Isabel brincava aqui, no jardim das princesas, que não está aberto ao público porque não tenho condições", disse à Folha em maio Alexander Kellner, 56, diretor do Museu Nacional.
Em maio, 10 de suas 30 salas de exposição estavam fechadas, incluindo algumas das mais populares, como a que guarda um esqueleto de baleia jubarte e a do Maxakalisaurus topai -o dinoprata, primeiro dinossauro de grande porte já montado no Brasil.
Para reabrir a sala, interditada havia cinco meses após um ataque de cupins, o museu armou uma campanha de financiamento coletivo na internet -e arrecadou R$ 58 mil, mais do que a meta de R$ 30 mil.
O museu guardava também o meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no país, e a coleção de múmias egípcias -inclusive o crânio de Luzia, a mulher mais antiga das Américas. Além de coleções de vasos gregos e etruscos (povo que viveu na Etrúria, na península Itálica).
A decadência física do prédio já era visível para os visitantes, que pagavam R$ 8 pelo ingresso inteiro.
Muitas de suas paredes estavam descascadas, havia fios elétricos expostos e má conservação generalizada.
No bicentenário, a instituição celebrou com o BNDES um contrato de R$ 21,7 milhões para investir em sua restauração. Havia outra negociação milionária encaminhada para bancar uma grande exposição -a expectativa era de que cinco das principais salas fossem reabertas até 2019.
Alexandre Kellner dizia ser necessários R$ 300 milhões, investidos ao longo de pelo menos uma década, para executar o Plano Diretor do museu.
O último presidente a visitar o museu foi Juscelino Kubitschek (1956-1961), lembra o diretor. "O Brasil não sabe da grandeza, da riqueza disso aqui. Se soubesse, não deixaria chegar neste estado", disse Kellner, em maio.
OUTRA TRAGÉDIA
O triste espetáculo de um museu tragado pelas chamas não é novidade no Brasil. Há quatro décadas, na mesma cidade que assistiu neste domingo à destruição do Museu Nacional, pegava fogo o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, uma das maiores tragédias já registradas na história da arte do país.
Na madrugada de 8 de julho de 1978, um incêndio que começou na sala de som do museu, um prédio modernista desenhado por Affonso Reidy à beira da praia no Flamengo, destruiu quase todo o acervo.
Pinturas de Pablo Picasso, Salvador Dalí e boa parte da fase construtivista do uruguaio Joaquín Torres-García viraram cinzas em menos de uma hora, além de quase todos os volumes da biblioteca especializada em artes visuais.
Nos livros de contabilidade, estimaram o prejuízo em cerca de R$ 60 milhões, mas, para a história, o dano provocado pelas labaredas é irreparável.
Nunca esclareceram as causas do incêndio. Investigações da época apontaram um curto-circuito causado por instalações elétricas defeituosas como a origem mais provável do incêndio que fez o museu fechar as portas por três anos.
Mesmo depois de reaberto, em 1981, o MAM também teve de interromper suas atividades por causa de goteiras e falta de segurança para o acervo.
Depois de uma longa campanha de solidariedade no meio artístico, o museu foi se reerguendo. Em 1993, o MAM recebeu em comodato a coleção de Gilberto Chateaubriand, com 3.500 trabalhos.
Fonte: correio do Estado