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Casado, educado e tranquilo: perfil de homem que matou 7 não levantava suspeitas
domingo, 17 Maio, 2020 - 17:15
Educado, respeitável, tranquilo, assim os vizinhos descrevem como era Cléber de Souza Carvalho, que confessou ter matado ao menos sete pessoas em Campo Grande. As características apontadas por vizinhos coincidem com um dos perfis tradicionais de serial killers. Conforme especialistas, muitos dos assassinos em série são “pessoas normais”, bem sucedidas e ativas na comunidade, até que seus crimes sejam descobertos.
Pedreiro tinha comportamento normal em sociedade, mas cometeu, no mínimo, sete assassinatos - Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado
Até a tarde deste sábado (16), Cléber confessou o assassinato de sete pessoas. Neste sábado, foi encontrado o corpo do aposentado Timóteo Pontes Roman, 62 anos, dentro de um poço, na Vila Planalto.
Conforme a criminologia, os assassinos em série são pessoas que matam uma porção de indivíduos seguindo uma lógica ou sequência em cada um deles. Geralmente as vítimas têm um mesmo tipo ou características semelhantes. No caso de Cléber, a lógica encontrada é que todas as vítimas eram homens, que moravam sozinhos e tinham bens em seus nomes.
Segundo o delegado responsável pela investigação, Carlos Delano, o perfil das vítimas era o mesmo e o criminoso afirmou que as matou para que pudesse se apossar de seus bens.
“É o perfil da vítima que evidenciamos que ele vem matando. Normalmente as vítimas tinham relacionamento com ele, nas que a gente identificou ontem e semana passada, eram pessoas com que ele havia ido trabalhar”, disse.
De acordo com a definição de serial killer, existem basicamente dois tipos de assassinos em série: os organizados e os desorganizados. Os do tipo organizado são os que normalmente exibem inteligência normal, conseguem se inserir bem na sociedade e tem vida aparentemente normal, com esposa e filhos.
Em análise dedutiva, conforme relatos de vizinhos e conhecidos sobre o comportamento em sociedade, Cléber se encaixa no perfil de organizados.
Pessoas que moram no bairro onde ele viveu por aproximadamente 30 anos, foram unânimes em afirmar ao Correio do Estado que o pedreiro nunca demonstrou qualquer traço que os levasse a desconfiar que ele seria um criminoso e que sempre tratou todos bem.
O guarda municipal Ramão Carlos Cordeiro, 67 anos, conhecia tanto o assassino quanto a esposa e filha dele, e afirma que a única coisa diferente que reparou é que a menina sempre deu problemas na escola e quem comparecia na unidade para resolver era a avó e não os pais.
“Ele morava aqui no bairro [Planalto], se criou aqui. Era um cara que conversava com a gente, mas não era de dar risada, era meio na dele. Ninguém nunca desconfiou de nada. Trabalhava de pedreiro, a mulher dele trabalhava por aqui. Mas a filha bebia, dava problema na escola, vinha de festa, nunca deram valor na menina”, disse. A menina teria ajudado o pai a ocultar alguns cadáveres e também foi presa, assim como a esposa do suspeito.
Também moradores do bairro, os aposentados Ari Paes Ribeiro, 74 anos, e Francisco Custódio, 73, conheceram e nunca desconfiaram do vizinho assassino.
“Ninguém desconfiava, era uma educação, passava e cumprimentava, quem via pensava 'é um coitado'. Só bebia bastante”, disse Ribeiro.
Ainda conforme a criminologia, ciência que estuda o comportamento dos criminosos em busca da criação de seus perfis criminais, outro padrão de serial killers é o modus operandi, ou seja, a forma de execução do crime, que segue sempre um mesmo modo.
Delegado explicou que todas as sete vítimas encontradas até hoje foram mortas com pauladas na cabeça.
Outra característica de Cléber notada pela Polícia Civil é a frieza com que trata os crimes. Após ser preso por um homicídio, ele confessou os demais de maneira tranquila, indicando onde enterrou ou escondeu os corpos.
“É notável a desvalorização da vida humana. Pelo menos dois a gente sabe que ele já conhecia há meses, do bairro ou então chamava para trabalhar junto, e matava”, disse Delano.
A polícia também não descarta a possibilidade de haver mais vítimas enterradas. “Pode ter outras vítimas. Ele fala que não, mas desde que disse que não já achamos mais duas, não dá para confiar no que ele fala”, disse o delegado.
Além do perfil dedutivo, baseado em evidência, também há o perfil indutivo, que traça o perfil comportamental e deve ser elaborado por um psicólogo ou psiquiatra e podem apontar, por exemplo, se o criminoso é psicopata.
O primeiro corpo encontrado foi de José Leonel Ferreira dos Santos, de 61 anos, que foi morto dia 2 de maio em sua própria casa. No dia seguinte ao crime, a família de Cléber se mudou para a residência, fato que fez um vizinho da vítima desconfiar e registrar boletim de ocorrência.
Polícia investigou o caso e, ao ser descoberto, Cléber confessou a morte de José Leonel e outros homicídios, indicando onde havia enterrado os corpos.
A segunda vítima era ajudante do serial killer. José de Jesus de Souza, 45 anos, trabalhava como pedreiro nas obras e foi morto depois de desentendimento com o criminoso. Ele era da Bahia e não tinha familiares em Campo Grande. A irmã de Cléber estava morando na casa de José de Jesus e ele também vendeu um terreno que pertencia à vítima.
Geraldo, de 48 anos, também trabalhava com o assassino. Ele foi com o suspeito até um terreno no Zé Pereira, onde foi encontrado, com a intenção de limpar e invadir o local. Lá, se desentenderam e o criminoso golpeou a vítima na cabeça com o cabo de uma picareta. O autor enterrou o corpo e arma do crime no mesmo lugar. Dessa vez, não se apropriou de nenhum bem material da vítima.
Taíra, 74 anos, fazia bicos de jardinagem, foi contratado pelo pedreiro para capinar um lote, na Vila Planalto. Eles também se desentenderam e o assassino o matou e enterrou o corpo no local. O idoso estava desaparecido desde novembro de 2016. A família que mora na casa não sabia da existência do cadáver enterrado em uma área concretada, na calçada lateral da residência.
A 5º vítima do serial killer é da própria família. Flávio Pereira, de 34 anos, primo de Cléber foi morto em 2015, depois de brigar com o suspeito devido a um terreno que pertencia à vítima. Após o crime, o pedreiro depois vendeu a propriedade para um barbeiro, de 53 anos, por R$50 mil.
Sexto corpo encontrado é de Claudionor Longo Xavier, de 48 anos, que estava desaparecido desde abril de 2019. Cléber conheceu Claudionor como caseiro em uma chácara, resolveram fazer juntos um investimento em imóvel, mas acabaram brigando. O suspeito matou e levou o cadáver no terreno de uma casa no bairro Sírio Libanês e vendeu a motocicleta da vítima.
Última vítima conhecida até então é o aposentado Timóteo Pontes Roman, 62 anos. Ele contratou o pedreiro para fazer reparos na calçada da casa onde morava, na Planalto, onde foi morto com duas pauladas na cabeça e o corpo jogado em um poço de mais de 10 metros, nos fundos da casa. Assassino disse que intenção era se apropriar da casa do aposentado, que morava sozinho.
Fonte: Correio do Estado