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Estudantes de MS criam App que ensina jovens a lidar com dinheiro e abandonar a gastança

on sab, 11/01/2025 - 14:22
sábado, 11 Janeiro, 2025 - 14:15

A construção de uma mentalidade financeira saudável na palma da mão dos jovens brasileiros. Com esse propósito, estudantes de Campo Grande (MS) criaram um aplicativo, chamado Finan. Não se trata de mais um em meio às inesgotáveis opções das lojas virtuais. O novo App é rico em complexidade e foi pensado para facilitar o ensino de finanças na sala de aula, oferecendo até mesmo um pré-plano de aulas aos professores.

Estudantes criam App que ensina jovens a lidar com dinheiro e abandonar mentalidade gastadeira

Os estudantes Pâmela Silva, Ivan Carlos da Silva Pereira e Álvaro Antônio dos Santos (Foto: Luiz Alberto)

O projeto que foi semifinalista do Desafio Liga Jovem, uma competição nacional realizada pelo Sebrae e o Instituto Ideias do Futuro, em 2023, agora está sendo aperfeiçoado dentro da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), onde a maioria dos alunos desenvolvedores do App ingressou no ensino superior neste ano de 2024. A aposta na ideia é tamanha que o grupo se organiza para oferecer o produto ao Ministério da Educação (MEC) e assim fazer com que todas as escolas do País tenham acesso à novidade.

A história do Finan começou em meados de 2022 no pátio da Escola Estadual Coração de Maria, no Bairro Santa Doroteia, em Campo Grande. Os estudantes Álvaro Antônio dos Santos Jesus Neto, Ivan Carlos da Silva Pereira e Pâmela Silva dos Santos, que no início da ação estavam no 2º ano do Ensino Médio, além de Julia Elisa Castelheira Cominesi e Yasmin Bogarim Silva, do 3º ano, conversavam sobre uma possível participação na disputa nacional.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Grupo comemorou ao chegar à semifinal do Desafio Liga Jovem, com o projeto Finan, em 2023 (Foto: Divulgação)

O Finan nasceu após vários meses de estudos sobre o mundo das finanças. Os alunos elegeram o App como meio de mostrar ao mundo aquilo que descobriram e ganhar novos jovens para a causa da educação financeira para a qual atribuem significados como independência, liberdade, domínio próprio, nome limpo, segurança, saúde e realização de sonhos entre outros. Essa reportagem pretende mostrar a jornada deles até o Finan e aonde planejam chegar.

- Nesta matéria você vai ler :

- 'Jovens só conversam sobre como gastar'

- App virou projeto de universidade federal

- Finan ensina a poupar para comprar e terá moeda virtual

- App precisará de atualização constante

'Jovens só conversam sobre como gastar' - O Liga Jovem desafia estudantes a resolver um problema de sua escola ou comunidade usando a tecnologia. "A gente começou a conversar sobre o que estava faltando na escola e enxergamos uma carência de educação financeira. Nas rodinhas de conversas, quando se fala em dinheiro, é apenas sobre gastar. Então, a gente entendeu que deveria fazer algo para mudar essa mentalidade. A escolha de fazer um App foi muito assertiva, porque trata-se de um recurso já bastante inserido no dia a dia dos jovens", analisa Álvaro Antônio.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Professora Carolina e os alunos em reunião on-line sobre o Finan em 2023 (Foto: Reprodução)

O grupo não tinha experiência nesta tarefa, mas se debruçou em estudos e reuniões. Começaram pesquisando qual seria a melhor plataforma para o protótipo, depois foram atrás de investidores e recursos financeiros para custos da viagem (o Sebrae paga a hospedagem e alimentação). A professora Carolina Laranjo Breda foi quem coordenou o grupo. Ela guarda as melhores lembranças daquela iniciativa que partiu dos alunos. Os próprios estudantes a convidaram para orientar o projeto.

"Bom, quando fui convidada pelos alunos para ser orientadora do projeto no Desafio Liga Jovem não imaginava que eles iriam tão longe (...) Foi motivador ver jovens amadurecendo e se transformando em adultos responsáveis. Eu vi adolescentes se organizando e dividindo as tarefas. O Desafio Liga Jovem não ensinou aos meus alunos apenas a estruturar uma startup, ensinou a empreender para vida", enaltece a professora.

De fato, chegaram longe. No Desafio, realizado no mês de Março de 2023, em São Paulo, foram selecionadas 1.100 startups de vários estados brasileiros. Apesar da concorrência grande, o projeto Finan chegou às semifinais, sendo bastante elogiado. “Estamos muito orgulhosos da equipe (...) Eles estão colocando em prática as competências empreendedoras desenvolvidas na Educação Empreendedora, e com certeza isso irá render bons frutos”, afirmou o diretor de operações do Sebrae/MS, Tito Estanqueiro.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Desafio Liga Jovem selecionou mais de mil startups, sendo que os alunos da Capital conseguiram destaque (Foto: Divulgação)

App virou projeto de universidade - Realmente, as apostas, tanto da professora quanto do diretor do Sebrae/MS, estavam certas. Aquele ano gerou uma motivação que acompanha os alunos na vida, agora em nível superior. Os estudantes levaram o projeto, que surgiu de um papo no pátio da escola pública, para a Universidade Federal onde, aliás, foi muito bem aceito.

Seus criadores, agora acadêmicos da Universidade, o introduziram na instituição de ensino superior onde ele se transformou em um projeto de extensão. Álvaro Antônio e Pâmela Silva estudam Economia, Ivan Carlos cursa Mídias Sociais e  Yasmin Bogarim, Química.

Embora não estejam todos em um mesmo curso, eles permanecem unidos pela causa que os fez destaque no desafio nacional, colocar a educação financeira no dia a dia dos estudantes através do Finan. Nessa caminhada ganharam a adesão de mais uma acadêmica de Economia, Dailla Lavínea, que também ingressou no projeto de extensão. Outro apoio importante é o da professora Susana Cipriano Dias Rafaelli que responde pela coordenação do projeto.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Os acadêmicos da UFMS Pâmela Silva e Ivan Carlos da Silva Pereira (Foto: Luiz Alberto)

"Quando eles apresentaram a ideia aqui na UFMS, eu fiquei muito encantada. Rotineiramente, a gente tenta encontrar estudantes para projetos de extensão, uma vez que, por lei, 10% da carga precisa ser destinada à extensão. Eles querem fazer a diferença na sociedade e isso é muito relevante e merece todo o apoio da universidade", comenta a professora Susana.

Finan ensina a poupar para comprar e terá moeda virtual  - Quando os alunos exibem o protótipo do Finan, percebe-se logo os seus predicados. O App é dinâmico e tem linguagem própria. O uso é bastante intuitivo e incentiva o diálogo aberto e honesto sobre finanças. Seu objetivo é fazer com que os jovens aprendam, planejem, economizem e se organizem para aplicar o dinheiro pensando no futuro.

"Sabíamos que para ganhar a atenção dos jovens, não poderíamos propor algo maçante, que parecesse cansativo. Assim, projetamos um visual atraente e com muitos ganchos para atrair o interesse deles", explica Pâmela Silva, apresentada anteriormente como uma das criadoras do APP nos tempos da Escola Estadual e agora colega de Álvaro no curso de Economia.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Imagem: Projeto Finan

A acadêmica observa que nas escolas públicas, como não há pagamento de mensalidades e nem de despesas para o estudo, os jovens ficam sempre alheios às questões de pagamentos. Assim, pensam no dinheiro, apenas como um passaporte para necessidades consumistas sem grande importância para o futuro.

Por isso, no App, o aluno é convidado, por exemplo, a escolher a profissão na qual se imagina no futuro. A partir daí, ele se verá diante de desafios para resolver, com metas e tudo. O Finan é de grande interação, levando o aluno a anotar várias informações.

No nível mais básico, está a compra de um tênis por exemplo. O estudante é chamado a se organizar para adquirir o calçado poupando todo mês. Ele precisa detalhar o produto e o preço. A compra só poderá ser feita quando ele tiver economizado o valor total.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

App Finan é uma grande aposta para educação financeira dos jovens (Foto: Luiz Alberto)

A operação do tênis pode ser executado tanto na vida real, ajudando a organiza uma compra verdadeira, como somente em ambiente virtual. Os alunos vão acrescentar uma moeda virtual para que os estudantes possam poupar, comprar e investir digital no App, como forma de treinar e descobrir as possibilidades.

É muita coisa para se explorar dentro de um App com finalidade educativa e conscientizadora. Baseado nesta experiência, os criadores do Finan tomam partido em outra discussão relevante na área de educação: celular na escola, sim ou não? A resposta é um sonoro sim, em coro. 

Para eles, o melhor a fazer é colocar a educação nessa relação já estabelecida (ou convivência quase inseparável) entre os jovens e o aparelho, ou seja, fazer dele um instrumento de aprendizagem também. “Se usado com sabedoria será algo muito poderoso”, opina Pâmela.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Imagem: Projeto Finan

App precisará de atualização constante - Outro participante do grupo, Ivan Carlos, que cursa Mídias Sociais, destaca a presença no App de ensinamentos básicos. "Acessando o App, será possível simular a abertura de uma conta em banco, que é um dos desafios do módulo inicial, onde também são explicadas as diferenças e os objetivos do boleto e do Pix, por exemplo", detalha.

Avançando nos módulos seguintes, o estudante poderá simular investimentos e descobrir que o dinheiro pode trabalhar para ele, além de entender como é feito o resgate e em quanto tempo cai na conta. Também estará à disposição a explicação sobre a taxa Selic e outras.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Professora Susana Cipriano Dias responde pela coordenação do projeto na UFMS (Foto: Luiz Alberto)

Vale mencionar que App Finan tem ainda os professores como público alvo, pois pretende ser uma ferramenta importante no trabalho deles junto aos estudantes. Por isso, ele foi organizado em módulos, tem agenda, espaço para anotações, menu específico para cada turma, com possibilidade de adicionar recados e colocar atividades e até diário para cada classe.

Uma atividade sugerida, por exemplo, é a criação de uma empresa virtual. A tarefa dos alunos será administrar a firma e apresentar um balanço com os lucros obtidos no final no ano.  

A verdade é que as ideias para serem incorporadas fervilham a todo momento. O protótipo em desenvolvimento na UFMS não para de crescer. E, se depender dos seus criados, nunca vai parar. Eles querem que o app seja constantemente atualizado acompanhando as mudanças da economia brasileira e oferecendo novas possibilidades de ensino financeiro.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Professora Susana Cipriano e os acadêmicos discutem detalhes do App Finan (Foto: Luiz Alberto)

"Por isso, estamos em uma fase de muita pesquisa. É muito importante pensarmos em como será feita a entrega deste material, de forma que ele realmente crie uma nova cultura na mentalidade dos jovens", afirma a professora.

Por isso, Susana Cipriano e os acadêmicos mobilizam os setores da Universidade, especialmente os da área de tecnologia, em busca de aperfeiçoar o produto e deixá-lo na medida certa para seu objetivo. Eles também estão abertos a analisar propostas de eventuais investidores.

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- Brasil, um País de milhões de endividados

- Mãe de família abriu escola de educação financeira na Capital  

- 'A pessoa precisa sentir a dor de não poupar', diz educadora

Brasil, um País de milhões de endividados -  Para o grupo que criou o Finan, a educação financeira é a alternativa certa para que os jovens brasileiros alcancem a estabilidade, evitando assim endividamentos e protestos. Os estudantes estão cientes dos números de endividados no País (seriam mais de 70 milhões), por isso, sonham em colocar o tema na rotina dos jovens. De fato, essa ação nunca foi tão urgente.

Uma pesquisa de abrangência nacional bem recente sobre o assunto foi divulgada em Novembro de 2024. O estudo foi encomendado pela  Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio/SP). O levantamento ouviu 18 mil famílias nas 27 capitais brasileiras e revelou um cenário preocupante:  77% das famílias têm alguma dívida, como conta sem pagar e financiamento imobiliário.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Imagem: Fecomércio / SP

Segundo a pesquisa, 29% das famílias têm contas em atraso e 13% disseram não ter condições ou perspectivas de quitar os débitos. Mais da metade das famílias endividadas (52%) vivem nos estados do Sudeste. As capitais com maior quantidade de famílias endividadas são: São Paulo (2.888.081), Rio de Janeiro (2.028.143), Distrito Federal (765.823), Belo Horizonte (744.993) e Fortaleza (712.465).

Em termos de porcentagem Porto Alegre e Vitória, tem registro de 91% das famílias nessa situação. Em Belo Horizonte, Boa Vista e Curitiba, o percentual é de 90% e em Fortaleza, 88%. Já Campo Grande e Salvador (66%), Goiânia e Macapá (68%) e Belém (69%) apresentam percentuais menores.

Em nota técnica, a Fecomercio/SP esclarece que as diferenças entre as capitais estão relacionadas às "condições macroeconômicas de cada estado e região, em que indicadores como inflação, juros e renda familiar criam circunstâncias distintas." A nota chama atenção ainda para o fato de que “quanto maior o número de famílias convivendo com dívidas mais caro fica o crédito no mercado, elevando, como consequência, o risco de inadimplência, principalmente em um cenário de juros altos ou inflação pressionando o consumo.”

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Em Campo Grande (MS), 66% das famílias têm alguma dívida (Foto: Luiz Alberto)

Mãe de família abriu escola de educação financeira na Capital - Apesar do endividamento ser pauta rotineira na mídia, o fato é que a maioria dos pessoas não tem conhecimentos básicos sobre finanças. Ao se dar conta disso, uma mãe de família de Campo Grande (MS), abriu uma escola de educação financeira. Sabrina Mestieri Nakao é jornalista e educadora financeira e criou uma metodologia inovadora para tratar do assunto. Desde então, ela vem acumulando milhares de seguidores nas redes sociais e repassando dicas preciosas para quem deseja alcançar a liberdade financeira.

O interesse dela pela educação financeira surgiu após se tornar mãe (de três, são dois meninos e uma menina). "Eu fiquei preocupada com a educação financeira dos meus filhos: pensava: se eles têm condições financeiras melhores do que eu tive como vão dar valor às conquistas, por isso comecei a estudar para ensiná-los", relembra. "Mas, percebi que essa é uma necessidade não só dos meus filhos. É preciso, educar uma geração para construir uma economia mais saudável para nosso País no futuro", completa.

App ensina jovens a lidar com dinheiro

Sabrina Mestieri Nakao fundou a Escola de Finanças (Foto: Reprodução/Rede Social)

Sabrina Nakao começou dando suas aulas em uma escola onde alugava uma sala em 2019. Ela comparecia uma vez por semana e, quando se deu conta, já atendia cinco turmas em um único dia. "Percebi que precisava de um espaço meu." Por essa razão, ela fundou a Escola de Finanças MS. O ambiente é pulsante em criatividade e cores diversas. Nas cores, aliás, está a essência da metodologia que ela criou.

"Minha metodologia se chama metodologia das cores. Inicialmente, foi criada por mim para ensinar crianças a partir de 7 anos. Mas percebi que adultos têm dificuldade em entender o economês e passei a atender adultos também com esse mesmo método", relata. Separar por cor, provoca um comprometimento maior, mesmo porque os humanos pensam colorido não em preto e branco.

'A pessoa precisa sentir a dor de não poupar', diz educadora - A metodologia das cores foi criada a partir do método dos envelopes, recomendada na educação financeira. As pessoas dividem sua renda em envelopes específicos, destinados a cada uma de suas despesas.  Junto às cores foram introduzidos conceitos de prioridade e constância para cada cor. O aluno inicia a programação de necessidade de depósito financeiro para reservar dinheiro para o que realmente é importante. 

O exercício é voltado à realidade da vida adulta. O aluno precisa administrar o dinheirinho recebido, comprar investimentos e gastar o dinheiro conquistado. Conforme a educadora financeira, as pessoas precisam sentir a necessidade de poupar. Por isso, é feito um passo a passo. "Não adianta ensinar a poupar, é necessário que antes a pessoa sinta a necessidade disso, sinta a dor de não fazer, e entender por que não se organizou ainda."

A metodologia, aliás, já foi  reconhecida pela Biblioteca Nacional como inovadora de educação financeira. "Ela ensina de maneira lúdica com jogos, analogias divertidas e etc.", enfatiza. E, se engana quem pensa que só as crianças é que se encantam com esse modo de aprender sobre finanças. "Tenho alunos que vão de empregados domésticos a fazendeiros e médicos (...) Então é para qualquer um que queira saber mais sobre finanças e não ficar mais boiando em conversar sobre economia e que estejam em busca de começar a gerir sua própria carteira de investimentos", complementa.

Conforme a educadora, a formação escolar é muito importante, mas para a construção de um futuro, é fundamental aprender como gerir o resultado do trabalho. No vídeo abaixo, que teve ampla repercussão na rede social, a educadora ensina como os pais devem falar aos filhos sobre trabalho, dinheiro e felicidade.

A  Escola de Finanças MS vai abrir inscrições para novas turmas no começo de 2025. As aulas estão previstas para começar na segunda quinzena de Fevereiro. O curso para adultos dura três meses com duas aulas por semana, das 19h15 as 20h30. Já o infantil ou jovem é ministrado uma vez por semana e dura cerca de 10 meses. O link para as inscrições é este (clique aqui). Como já foi mencionado a educadora está presente na rede social neste perfil: @financeiramenteimaturos


Fonte: Diário Digital