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Em MS, 115 crianças esperam adoção em fila com o dobro de pretendentes

on ter, 28/03/2023 - 11:21
terça-feira, 28 Março, 2023 - 11:00

Recém-nascidos correspondem a mais de 65% dos pedidos de adoção em todo Brasil, segundo dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). O levantamento, disponibilizado no portal de estatísticas do órgão, aponta que o País conta com 30 mil famílias aptas para adoção e cerca de 4 mil crianças em abrigos esperando serem adotadas.

Na imagem, criança adotada segura uma chupeta. (Foto:Henrique Kawaminami/Campo Grande News/Arquivo)

Em Mato Grosso do Sul, 502 crianças foram adotadas entre janeiro de 2019 e março de 2023. Hoje, 234 pretendentes estão disponíveis, 115 crianças estão prontas para um novo lar e 48 vinculadas a pretendentes, ou seja, estão próximas de uma possível adoção.

Ao Campo Grande News, a psicóloga perinatal e parental da Maternidade Cândido Mariano, Jackeline Medeiros, explica a preferência: “Estatisticamente, a demanda para adoção de bebês recém-nascidos está ligada à possibilidade de ter um filho como se fosse nascido da barriga, ou seja, ter um bebê desde as primeiras fases da vida”.

Para a profissional, os casais querem ter uma história afetiva desde o início, já que não puderam viver a fase da gravidez, que é justificada por saúde reprodutiva, diversas tentativas de FIV (Fertilização in Vitro), abortos e luto. “As famílias querem um bebê idealizado, que pode nunca chegar. Com isso, podem estar perdendo a oportunidade de realizar o sonho de constituir uma família. Tão logo [eles] querem construir uma história desde o nascimento, sair com o bebê no colo da maternidade, trocar fraldas… E amamentar, claro, nos casos em que se torna possível”, explica.

A psicóloga justifica que o número de crianças à espera pela adoção não aumenta na mesma proporção que a busca das famílias, e que este número acaba resultando em uma conta que não fecha. “Por serem maiores, ter grupos de irmãos ou estar com alguma enfermidade, os candidatos se autointitulam inaptos para cuidar dos menos afortunados. Mas vale destacar que a Justiça procura famílias com o perfil da criança, e não o contrário”, analisa.

Questionada sobre os procedimentos, Jackeline pontua que todos os casais passam pela mesma etapa de avaliação e preparação, independentemente de gênero. “As pessoas, no geral, não conhecem o procedimento para adotar uma criança e muitos se manifestam querendo adotar a partir da história contada, como no caso do bebê encontrado no Aero Rancho”, relembrou.

Conforme noticiado pelo Campo Grande News, o recém-nascido foi encontrado abandonado dentro de uma caixa de papelão na esquina das ruas Congonhas do Campo e Areia Branca, no início de fevereiro. Na época, a juíza da Vara da Infância, Adolescência e do Idoso de Campo Grande, Katy Braun do Prado, afirmou que o telefone do órgão não parava de tocar e até um casal dos Estados Unidos entrou em contato pedindo a guarda do bebê.

“A família selecionada para adotar essa criança, por exemplo, irá obedecer uma ordem de fila por tempo de habilitação no SNA (Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento). Os pretendentes precisam estar dentro do perfil da criança a ser adotada, devem estar a par de critérios que a lei de adoção exige, por exemplo, esse espaço de tempo entre filho biológico e o adotivo, caso a família da vez esteja gestando. Temos casos em que a própria família pede para pular sua vez caso estejam em uma gestação”, explica Jackeline.

A profissional relata que esteve com casais que não pensavam na ideia da adoção durante a terapia, mas que hoje estão aptos e na fila de espera. “Muitas vezes, os paradigmas cercam o tema da adoção. O preconceito é uma das coisas que impede, por exemplo. Meu papel é ajudar a desmistificar essa ideia”, finaliza.


Fonte: Campo Grande News