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Uso de agrotóxicos coloca antas em risco na região do cerrado de MS

on ter, 09/10/2018 - 10:43
terça-feira, 9 Outubro, 2018 - 10:30
Foto: instituto Ipê
 
O uso indiscriminado de agrotóxicos no Cerrado de Mato Grosso do Sul coloca em risco antas que vivem na região. Pesquisa realizada pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), apontou que 40% das 116 amostras coletadas, com animais capturados em armadilhas (para instalação de colares de monitoramento) e em carcaças de exemplares mortos por atropelamento, estavam contaminadas com resíduos de produtos tóxicos, incluindo inseticidas organofosforados, piretróides, carbamatos e metais pesados.
 
“Os resultados provenientes da análise de amostras biológicas de antas nos fizeram pensar de forma mais ampla sobre a problemática do uso indiscriminado de agrotóxicos no Cerrado. Aparentemente, encontramos uma conexão bastante clara entre a pulverização aérea, a cana-de-açúcar, os inseticidas e a contaminação ambiental. Nesse caso, a anta está servindo como ‘espécie sentinela’, capaz de demonstrar os riscos presentes no meio ambiente onde outras espécies da fauna, animais domésticos e comunidades rurais vivem”, defende Patrícia Medici, coordenado do Incab/IPÊ.
 
A detecção de agentes tóxicos em amostras confirma que as antas estão expostas a essas substâncias no ambiente que habitam, por contato direto com as plantas, solo e água contaminados. A análise estomacal demonstra exposição pela ingestão de plantas nativas contaminadas e de itens das culturas agrícolas eventualmente utilizados como recurso alimentar.
 
A detecção de resíduos de agrotóxicos em amostras de fígado e sangue demonstra que ocorre a metabolização dos agentes tóxicos pelo organismo do animal, o que o predispõe a processos capazes de interferir na sua longevidade, estado de saúde ou em aspectos reprodutivos extremamente relevantes para a viabilidade da espécie. 
 
Com amostras de unha e osso, os pesquisadores também  avaliaram o acúmulo de substâncias tóxicas (especialmente de metais pesados) no organismo dos animais ao longo dos anos. “Todas as substâncias detectadas possuem algum nível de toxicidade e podem desencadear processos fisiológicos com implicações importantes para a saúde dos animais afetados, particularmente nas respostas endócrinas, neurológicas e reprodutivas. A maioria dos estudos sobre o assunto aborda os efeitos agudos ou imediatos da intoxicação, mas pouco se sabe sobre o impacto da exposição crônica a estas substâncias ao longo de meses ou anos”, pontuou Patrícia.
 
De acordo com o IPÊ, a anta é uma espécie importante para a manutenção dos ecossistemas onde vive, exercendo um papel fundamental na dispersão de sementes e conexão entre diferentes habitats, e o Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do Brasil. Além das pesquisas sobre agrotóxicos, os pesquisadores monitoram atropelamentos de antas em rodovias de Mato Grosso do Sul, fazem estudos de ecologia e uso da paisagem, bem como outras análises de saúde e genética. Os resultados de todas essas frentes de atuação são utilizados para estratégias de redução das ameaças que atingem não somente a espécie, como todo o ambiente e todas as formas de vida que nele habitam, incluindo os humanos.

Fonte: Correio do Estado / Instituto Ipê