Dez horas antes de ser assassinada com tiros na cabeça, nesta segunda-feira (29), na cidade de Iguatemi, a 412 km de Campo Grande, a cabeleireira Aline Mayara Boni, de 24 anos, invadiu a casa de uma vizinha e foi parar no hospital, levada pela Polícia Militar. O marido dela é suspeito de cometer o crime e já é procurado pela polícia.
Aline Mayara em foto publicada no Facebook. (Foto: Redes sociais)
Segundo o delegado Eduardo Ferreira de Oliveira, quando invadiu a casa da vizinha, por volta de meia-noite desta segunda-feira, Mayara estava totalmente desorientada.
Nos últimos 10 anos, Mato Grosso do Sul registrou mais de 188 mil casos de violência doméstica. Conforme dados do SIGO Estatística, 2023 foi o ano com maior concentração de casos da última década, com mais de 20 mil ocorrências.
Imagem: reprodução
No total, são 20.279 casos no último ano no Estado. Os dados da plataforma foram atualizados na última segunda-feira (1º).
Comparado com o ano de menor número de casos, 2023 demonstra aumento de 18% nas ocorrências deste tipo. Em 2014, foram 17,1 mil registros durante todo o ano.
Dos casos de 2023, a maioria foi registrada no interior do Estado.
Dossiê do Ministério Público de Mato Grosso do Sul mostra que o Estado teve a maior taxa de tentativa de feminicídio do Brasil, 3,5 a cada 100 mil mulheres, em 2023, e lidera o ranking nacional com a maior taxa de assassinatos, 8,3 a cada 100 mil mulheres. O balanço toma por base os registros dos quatro primeiros meses deste ano.
Karolina Pereira é o caso mais recente de feminicídio em MS (Foto:Redes Sociais)
De janeiro a abril de 2023, 52 mulheres quase perderam a vida nas mãos de agressores e 7 foram assassinadas.
As cidades de São Gabriel do Oeste e Camapuã, foram palco de uma tentativa de feminicídio e um latrocínio que chocaram a população das cidades. O suspeito de ambos os crimes é Leanderson de Oliveira, de 36 anos, morador de Camapuã.
Veículo do taxista roubado pelo assassino - Imagem: reprodução / Idest
Conforme as informações da Polícia Civil, uma mulher, de 32 anos, moradora no bairro Cidade Jardim em São Gabriel do Oeste, foi agredida com várias facadas por Oliveira, ex-companheiro da vítima. Segundo relatos de testemunhas, o suspeito discutiu com a vítima antes de golpeá-la.
Ameaças declaradas e um boletim de ocorrência - registrado à véspera do crime - não impediram que Geni da Costa Reis dos Santos, 56, ficasse marcada como a 33ª vítima de feminicídio em Mato Grosso do Sul neste 2022, conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Geni era servidora da Depen e registrou boletim de ocorrência na véspera do crime - Arquivo Pessoal
Vale ressaltar que, ainda faltando três meses para o fim, 2022 segue como o ano com maior número de feminicídios consumados, desde a criação da lei, instituída em 2015.
Com o assassinato de Rebeca França Antônio, 20 anos, Mato Grosso do Sul tem o registro de 29 feminicídios de janeiro até setembro de 2022.
Rebeca tinha 20 anos e deixa dois filhos - Crédito: Reprodução/Redes Sociais
A jovem foi esfaqueada pelo ex-marido na manhã de quarta-feira (7), em São Gabriel do Oeste.
Rebeca foi socorrida pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e levada para o hospital do município, mas não resistiu. Ela deixa dois filhos pequenos.
Suspeito preso
Rafael Rocha de Moraes, 20 anos, se entregou a Polícia Civil na tarde do mesmo dia do ocorrido.
O ex-marido da mulher encontrada morta e enterrada nesta quinta-feira (19), no quintal de uma casa em Ponta Porã, é o principal suspeito do assassinato. A vítima foi identificada como Felipa Moreno Ojeda, de 33 anos. O homem possui uma extensa ficha criminal e tem vários registros policiais de agressão à ex-esposa.
Foto: divulgação
De acordo com o boletim de ocorrência, a irmã da vítima se dirigiu até uma delegacia para comunicar o desaparecimento de Felipa, que se deu no dia 16 de maio deste ano, data em que foi vista pela última vez no status do WhatsApp.
Uma mulher de 36 anos foi morta com 24 facadas pelo o namorado, um homem de 45 anos, na noite desta sexta-feira (26), em Chapadão do Sul, a 330 km de Campo Grande. De acordo com a polícia, a mãe da vítima foi esfaqueada pelo suspeito.
De acordo com o delegado Felipe Potter, o pedreiro Leonil Pereira da Rocha, chegou até a casa de Aldennir Soares da Silva por volta das 19 horas e após uma conversa os dois começaram uma discussão.
Vítima e o marido, autor do crime. Ele está foragido. (Foto: O Correio News)
Conforme Potter, testemunhas que foram ouvidas neste sábado (27), informaram que a
O mês nem terminou e 4 mulheres foram vítimas de feminicidas. Em 2020, não só o número de assassinatos com características de violência de gênero assustam, mas a crueldade e o pouco intervalo entre um e outro. Em maio, uma mulher foi morta a cada 3 dias em Mato Grosso do Sul.
Equipe recolhe o corpo de Graziele Quele, vítima de feminicídio em Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Valéria Ribeiro, de 30 anos, foi a 15ª vítima de feminicídio no Estado neste ano. O assassinato a facadas, na noite de ontem (15), foi filmado por vizinhos.
Relatório do Poder Judiciário sobre os casos de feminicídio em Mato Grosso do Sul apontam que em 2019 de cada dez vítimas de agressores, sete não haviam denunciado crimes anteriores.
Para a juíza Jacqueline Machado, que respondeu pela Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça de 2017 a 2019, a Lei Maria da Penha é uma das mais modernas no combate a violência contra a mulher e cita que se a Justiça for acionada no tempo correto, vítimas serão protegidas evitando casos de feminicídio.
Silvana Tertuliano foi morta pelo ex-namorado no Portal Caiobá, em Campo Grande (Foto: Arquivo pessoal)